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20 anos de ordenação feminina: uma data pra se comemorar

Não foi um processo simples. Foram necessários anos de debate, estudo, superação de questionamentos, críticas e preconceitos. Mas desde que a Reva. Lucilêde Pereira foi ordenada pastora pelo Presbitério Distrito Federal, em maio de 2000, diversas outras mulheres têm seguido o mesmo caminho, tornando-se presbíteras ou pastoras, assumindo igrejas e trabalhos Brasil afora. Hoje, ver uma mulher no púlpito é algo natural para a grande maioria dos presbiterianos independentes. O que não quer dizer que todas as oposições tenham sido vencidas, pois, apesar do longo caminho já percorrido, ainda falta muito para que homens e mulheres tenham condições iguais para trabalhar na obra de Deus.

Durante muito tempo, a própria Bíblia serviu de justificativa contra a ordenação das mulheres. Apesar da importância da figura feminina na história de Israel, com personagens como Débora, Rute, Ester, Raabe, personagem tão importante na tomada de Jericó e integrante da genealogia de Jesus, elas eram associadas a situações de ruína moral no Antigo Testamento e criticadas pelo deslize de Eva, pela traição de Dalila ou pelas manipulações de Jezabel. O Novo Testamento valorizou bem mais as mulheres. Maria foi escolhida para ser a mãe do Salvador e outra Maria, enviada para anunciar pela primeira vez sua ressurreição. Podemos, ainda, lembrar de muitas outras: Lídia, Priscila, Febe, Maria Madalena... No entanto, a imagem que continuou sendo evocada ao longo dos séculos era a da submissão, com o véu na cabeça e a boca fechada, tal qual a carta de Paulo à igreja de Corinto.

No quarto século, quando a igreja decidiu que os sacerdotes deviam ter dons específicos dados por Deus, a ordenação feminina acabou definitivamente descartada e, desde então, com o aumento das exigências e o aparecimento do celibato, os púlpitos se tornaram ainda mais exclusivos dos homens. Nem mesmo a Reforma Protestante fez questão de mudar essa situação! Desde então, muitas revoluções sociais, políticas e culturais aconteceram e a igreja não passou incólume às mudanças. As mulheres conquistaram o direito de trabalhar fora de casa, de votar e de liderar. Até nos templos, onde se levantaram dos bancos para falar, cantar, visitar, administrar, pregar e ensinar.

Desde os anos 40, mulheres vinham estudando teologia na IPIB, mas não com o propósito de subir aos púlpitos. Não que a discussão não existisse. O assunto estava em pauta desde o final dos anos 60, mas, com o argumento de que a igreja não estava preparada para aquilo, era sempre engavetado. A partir da década de 80, com apoio do grupo de jovens e da Sociedade Auxiliadora de Senhoras, o debate foi aberto. Criou-se então o Grupo de Reflexão do Ministério Feminino, fizeram-se debates e artigos foram escritos e publicados em O Estandarte, órgão oficial da IPIB. Hoje temos o privilégio de ter como pastoras muitas irmãs que fizeram parte daquelas fileiras, como revª. Sueli Machado, revª. Shirley Maria dos Santos Proença, esta última, personagem importante dessa época e ícone dessa luta, dentre tantas outras pessoas, como as irmãs Noemi Machado e Cássia Ciano.

O tema da ordenação feminina era motivo de reflexão também em outras denominações.

Os metodistas aprovaram a ordenação feminina em 1971. Ainda assim, nas duas primeiras décadas, as candidatas ao ministério sofreram bastante preconceito e poucas resistiram, concluíram os estudos e se engajaram no ministério. Apesar de ter assumido uma postura mais conservadora nos últimos anos, a Igreja Metodista tem hoje duas bispas eleitas no colégio episcopal: Bispa Marisa de Freitas e Bispa Hideide Brito Torres.

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), ordena mulheres ao pastorado desde 1983. Entretanto, somente no ano passado, em outubro, foi eleita a primeira mulher para a presidência da IECLB, a Pastora Sílvia Beatrice Genz, sob muitas críticas nas redes sociais.

De modo semelhante, apesar de ordenar mulheres desde 1984, somente em janeiro de 2018 a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) consagrou a primeira bispa no Brasil, Revma. Marinez Rosa dos Santos Bassotto em 20 de janeiro de 2018.

Diferentemente das igrejas irmãs mencionadas, a IPI do Brasil, já nas primeiras eleições para a diretoria nacional após a aprovação da ordenação feminina, elegeu uma mulher para compor a diretoria da Assembleia Geral, a presbítera Eleni Rodrigues Mender Rangel. Infelizmente, após os dois mandatos cumpridos por ela, nenhuma outra mulher compôs a diretoria da IPIB.

Em sua última reunião Ordinária, o Presbitério do ABC, elegeu pela primeira vez uma mulher para a presidência, a presbª. Eleni Rodrigues Mender Rangel, compondo a diretoria com o maior número de mulheres de sua história, tendo a presbª. Valdirene Márcia da Rocha Nogueira e a revª. Nayara Santana Naves como primeira e segunda secretárias respectivamente.

Se observarmos as estatísticas da IPIB, notaremos que a proporção entre homens e mulheres no ministério pastoral é da ordem de 1 mulher para cada 10 homens desde a aprovação da ordenação feminina. Talvez seja necessário buscar as razões desse número não ter crescido ao longo de 20 anos.

Apesar das vitórias alcançadas, com a graça de Deus, ainda há muitos desafios a serem superados: muitas regiões ainda não ordenam mulheres, em outras, ainda que ordenem deixam para as mulheres os campos mais problemáticos, com maiores dificuldades, inclusive financeiras, muitas vezes inviabilizando o ministério dessas pastoras, para depois apontá-las como incapazes ou não vocacionadas. Presbitérios e outras instâncias decisórias precisam atentar para essas questões e evitar discriminação e preconceito para com as mulheres ordenadas, principalmente ao Ministério da Palavra e dos Sacramentos.

Certamente, até aqui nos ajudou o Senhor, e por isso temos muitos motivos para celebrar! Entretanto, é nosso desejo que esses motivos de júbilo se multipliquem e que a Igreja possa valorizar mais e mais o ministério feminino ordenado! Presbª. Eleni R.M.Rangel Presidente do Presbitério do ABC Via: www.ipib.org

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